segunda-feira, 22 de julho de 2019

Picos da Europa- de Fuente Dé a Caín com a Ruta Del Cares, no ponto de vista d’um Maçarico



 Acordámos com uma manhã fria e chuvosa, condições meteorológicas que nos iriam trazer uma agradável surpresa, mas que naquele momento nos fez recorrer aos aborrecidos mas essenciais fatos de chuva. Ainda cedo pela manhã tomámos o pequeno almoço num bar que encontrámos aberto junto ao rio. Àquela hora a oferta ainda era pouca, mas lá confortamos o corpo com umas torradinhas forradas a manteiga. 
 Saímos novamente direitos a Fuente Dé. Este foi o local, exceptuando a Rota Del Cares, que mais me impressionou na viagem aos Picos. Os últimos metros de estrada são impressionantes. Chegamos literalmente a um anfiteatro natural no qual entramos a partir do fundo, sendo que o topo fica a 800 metros de altura em relação à estrada. A ligar as duas extremidades existe um teleférico que nos transporta até o cimo em apenas 4 minutos.  Na base do mesmo estava a cair uma chuva miudinha e irritante de tão persistente que era. 

Fuente Dé 

Teleférico Fuente Dé 

Fuente Dé 
 Contudo, um pouco depois de iniciarmos a subida, reparamos que as gotas de água estavam cada vez mais grossas. Era neve! Caía tão regular que depressa deixou o topo tapado com um manto branco. Testemunhar isto teve tanto de belo como de surpreendente. Gostámos tanto que ali permanecemos mais tempo do que estaríamos à espera, vendo as cabines a subir e a descer a um ritmo que mais parecia os elevadores da Carris pelas colinas de Lisboa. Inesquecível!  

Fuente Dé, topo do teleférico.

Fuente Dé, topo do teleférico.

Fuente Dé, topo do teleférico.
 Fuente Dé para trás e lá retornámos a Potes mas não antes de passarmos na queijaria Deva, em Camaleño. Sim, é verdade. Lá carreguei mais um pouco a Stromina, que já ia preparada para estes extras. 
 Continuámos o percurso da magnífica N-621 passando pelo Mirador Del Corzo, em Puerto de San Glorio. Apesar de não conseguirmos ver a paisagem com toda a espetacularidade que lhe é devida, aquela chuvinha irritante não permitia, conseguimos ter um vislumbre de boa parte da cordilheira Cantábrica. É uma imagem impressionante com vários topos a cima dos 1000 metros.  

Mirador Del Corzo

Mirador Del Corzo 

 Dali continuamos a subir até ao topo da passagem de montanha com um frio tal que a certa altura a chuva já flutuava, numa ameaça de virar neve. Essa não chegou a cair à nossa passagem, mas o gelo que demarcava as bermas da estrada era prova de que tinha nevado durante a noite. 
 A descida desta passagem de montanha mostrou ser uma boa surpresa, com um toque do Tirol Austríaco no caminho para Portilla de la Reina. Neste momento o frio era tanto que já só queríamos chegar a Caín, para nos reconfortarmos num prato de comida quente, acabada de cozinhar.
 Foi depois de percorrer a estreita e brutal estrada que liga Posada de Valdeón a Caín, que pudemos buscar o tão desejado conforto, ao chegarmos ao Hotel Casa Tino e o seu apetitoso restaurante La Senda. Ali degustamos um delicioso guisado de cordeiro que nos deixou prontos para continuar à aventura. 

N-621 na descida para Portilla de La Reina

Estrada para Caín de Valdeon 

 Já com a dormida acertada, roupa trocada e capas de chuva vestidas, lá partimos para a aventura mais impressionante de toda a viagem - A Rota Del Cares.
 Falar deste pedaço de natureza é falar de algo singular, é falar do que nos mete verdadeiramente no nosso lugar. Fazê-lo com chuva é ampliar ao dobro a sensação de grandeza, de admiração, de respeito pelo que nos faz tão pequenos. Já tive o privilégio de fazer outro percurso de excelência em Espanha, o Caminito Del Rey, perto de Málaga. Mas na Rota Del Cares sentimos a natureza num estado mais puro. Sentimo-nos mais longe da civilização, com uma oportunidade de refletirmos naquilo a que damos valor. Por favor, não percam a oportunidade de fazer este pedaço de paraíso em estado bruto. Nunca mais vão  esquecer a experiência. 

Rota Del Cares 

Rota Del Cares 

Rota Del Cares 

Rota Del Cares 

 Foi desta forma que terminei a minha visita aos Picos da Europa, com dormida em Caín, um lugar mágico onde temos o privilégio de dormir no meio da natureza. Não esqueçam este nome, Hostel Casa Tino. É como dormir na casa daqueles tios que fazem sempre questão de nos receber bem. Outras aventuras virão mas esta ficará sempre gravada na nossa mente e coração, talvez por ser a primeira viagem de mota, talvez por ser com a pendura preferida, talvez por ser onde foi. Uma certeza tenho, irei voltar. Não sei quando. Até lá há muito para descobrir muito para percorrer, muito para viajar. Viagem também. Boa viagem!

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Picos da Europa - dos Lagos de Covadonga até Potes pela costa Cantábrica, do ponto de vista d’um maçarico

 Este terceiro dia de viagem e segundo pelos Picos começou bem cedo.
Sabendo que a subida aos Lagos de Covadonga estaria interdita a veículos particulares a partir das 08:30, saímos do parque às 08:00 afim de fazermos a subida na Stromina e ao nosso ritmo. Apesar de não estar a chover no momento, a ameaça era constante o que nos deixou um pouco apreensivos sobre o que iríamos encontrar lá em cima. Será que estaria nevoeiro e não íamos ver nada? Esta era a pergunta que mais tínhamos na mente. Mas fomos brindados com uma monumental surpresa. Passámos o primeiro nível de nuvens ainda cá em baixo, o que permitiu ter uma vista soberba das redondezas, em que os picos da montanhas se destacavam acima do manto branco. 

Estrada para os Lagos de Covadonga 

 Além disso, testemunhámos uma das principais actividades da zona, ainda muito bem conservada, o pastoreio. Grandes manadas de vacas ocupavam toda a faixa de rodagem que fazia lembrar a 2a circular em hora de ponta. Não conseguimos fotografia porque fomos apanhados desprevenidos com tanto trânsito bovino. Na descida, encontramos um rebanho de cabras montesas a brincar aos pulos bem na beira da estrada. 
 Os Lagos, ainda cedo pela manhã e com poucos turistas, transmitem uma calma que alimenta a alma.
Lago de Enol

Lago de Enol

Alimenta a alma mas não a barriga daí que depois de visitarmos as minas de Buferrera e de uma paragem em Covadonga, seguimos de novo para Cangas de Onís para tomarmos o pequeno almoço. Mas porquê Cangas outra vez? Porque estava a ressacar por açúcar e sabia que ali havia boas confeitarias. O que querem? Sou guloso por natureza. 

Minas de Buferrera

Minas de Buferrera
Cabras montesas na descida para Covadonga 

Casas de abrigo para os animais e seus pastores 

Covadonga 

Covadonga 

  Saídos por fim de Cangas seguimos até às praias da Costa Cantábrica, nomeadamente a Ribadesella, 
Llanes e Unquera.
 Ribadesella mostrou-se muito pitoresca com as suas casas de muitas formas, cores e feitios, com o mar sempre no cenário. 
Adorei llanes e a sua Playa De Toró. Que céu! Que mar! Com aquela  areia pontilhada de rochas que complementa a fotografia. Espetacular! Foi bom aquela paragem onde o sol espreitou e nos deixou aproveitar a esplanada estratégicamente colocada à entrada da praia.
 Em Unquera já não parámos, talvez tenha perdido o melhor, mas seguimos directos para Pannes e de volta aos Picos.  

Ribadesella 
Playa de Toró, Llanes
 Atravessar o Desfiladeiro de La Hermida, considerado por muitos o maior desfiladeiro da Europa,  fez-nos sentir pequeninos, muito pequeninos. E ainda mais pequeninos ficámos quando subimos ao Mirador de Santa Catalina. Dali vimos o mesmo desfiladeiro mas numa perspectiva diferente. De cima para baixo, a 1080 metros de altura em relação ao fundo do desfiladeiro. É impressionante como a estrada N-621 foi concebida naquela zona. Consta que tornou-se transitável a partir de 1863, ligando assim Unquera, na costa Cantábrica a Liébana. O principal objectivo era transportar a madeira dos bosques até Unquera, donde poderia depois se transportada por barco até outros lugares. 
O retorno a La Hermida mantém toda a espetacularidade pois estamos a fazer o percurso no sentido contrário com um ponto de vista completamente diferente e agora, devido à presença de uma antena de telecomunicações junto ao miradouro, conseguimos perceber o quão alto estávamos.

Mirador de Santa Catalina 

Desfiladeiro de La Hermida visto do miradouro

Desfiladeiro de La Hermida visto do miradouro 

De volta a La Hermida
  De volta à N-621 seguimos para Potes onde iríamos pernoitar. O local escolhido foi o Camping La Viorna. Tenda montada e ainda fomos tentar a subida no teleférico de Fuente Dé. Como não há pressa que não dê em vagar, a viagem foi tempo perdido, já estava fechado (fecha às 18:00). Lá tivemos de repetir os 23 kms para cada lado a partir de Potes no dia seguinte.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Picos da Europa, a partir de Riaño - 2° dia do Maçarico


 
 Já foi há mais de um mês que fiz a minha primeira grande viagem de mota, o tempo passa depressa. O destino foram os Picos da Europa. Já escrevi sobre a preparação da mesma , já escrevi sobre o percurso escolhido para lá chegar e também escrevi sobre um dos tipos de estadia escolhido, o campismo. Agora é hora de falar sobre o que visitar num roteiro pelos Picos, neste caso o nosso segundo dia.
 Dependendo por onde chega, a base de partida para esta aventura pode ser Riaño, Cangas de Onís, Pannes ou mesmo Potes. Contudo, visto que Riaño é mais a sul, este é o ponto de partida escolhido pela maior parte dos portugueses, foi o nosso caso, ou de quem vem do Sul de Espanha.
 Este parque nacional pode ser visitado num percurso circular com alguns desvios para o interior ou exterior das montanhas. 
 Depois de termos dormido em Riaño seguimos para Cangas de Onís pela monumental N-625 e o seu Desfiladeiro de Los Beyos, uma garganta natural que acompanha o rio Sella. Em algumas partes do percurso a estrada corta ao meio as escarpas rochosas que encontramos por lá. São paisagens que bloqueiam momentaneamente o fluxo de ar que enche os nossos pulmões. 

A Monumental N-625 num dos troços mais espetaculares.

Início do Desfiladeiro de Los Beyos. Percurso que apetece fazer para cá e para lá vezes sem conta.

Desfiladeiro de Los Beyos 

 Após atravessarmos a estreito desfiladeiro, deparámo-nos com um corte de estrada provocado por uma derrocada mas as alternativas estava bem sinalizadas, embora não para todo o tipo de veículos, como por exemplo auto-caravanas. Contudo, após uma conversa com o dono de um café, decidi ir por uma alternativa menos conhecida, mais curta e muito bonita. Chegado a Puente de Vega, seguimos pela AM-1 em direcção a Argolibio, Villaverde, até chegarmos a Vega de Sebarga. Seguimos à direita pela AS-261 até entrarmos novamente na N-625, já depois da derrocada. Ao que consta, este problema foi resolvido algumas semanas depois. No entanto, vale a pena este desvio pelas paisagens incríveis com que nos vamos deparar, bem como as aldeias preservadas e habitadas que encontramos no caminho. E não fugimos nem em tempo nem em quilómetros ao nosso objectivo, pelo menos numa proporção que exija alterações ao nosso plano.  

AM-1 com Argolibio no horizonte 

Pendura na AM-1

AM-1 e Villaverde ao fundo
 
 Este percurso foi feito num domingo de manhã, o que permitiu chegar a Cangas de Onís durante o mercado que se realiza todas as semanas. Os produtos regionais são o ponto alto desta feira onde encontramos uma panóplia de queijos e enchidos que deliciam os apreciadores destas iguarias. É o meu caso. Dali sai com mais bagagem na mota, não fosse eu ter degustado e adquirido alguns produtos. 

Mercado semanal, Cangas de Onís 

 Após o almoço, voltámos à estrada em direção a Poncebos. O objectivo era subir o funicular de Bulnes e testemunhar o impressionante nível de preservação desta aldeia, ao qual não estamos habituados. Este é um local onde só podemos aceder de duas formas, por funicular ou a pé. Falar de um lugar assim talvez crie no nosso imaginário a ideia de uma aldeia com pouca gente, sem vida e isolada do mundo. Completamente enganados. Ali existem restaurantes, cafés, pousadas e casas particulares que fazem bater o coração que mantém aquela aldeia viva e de saúde. Apesar do percurso no funicular ser dispendioso (22€ ida e volta por pessoa) uma visita é obrigatória.

Poncebos 



Funicular de Bulnes

Aldeia preservada de Bulnes 

Bulnes

Bulnes

Bulnes

Bulnes

 De volta à mota, fomos até Sotres por um percurso de ida e volta numa estrada que impressiona pela beleza e pela proximidade com que se circula do abismo. A única fronteira é tão e somente um comum rail de proteção. Esta aldeia é famosa pela sua produção de queijos, daí haver queijarias por toda a parte. Visitamos uma delas e não deixamos de degustar e comprar mais uns ‘recuerdos’ comestíveis. 

A caminho de Sotres

A caminho de Sotres 

Regresso a Poncebos 

Poncebos 

Saímos de Sotres debaixo de uma chuva miudinha, que tornou a volta para Poncebos ainda mais sinuosa mas controlada. Esta tarde foi um dos pontos altos da viagem, com a visita a algumas das zonas mais remotas dos Picos da Europa.  Como optamos por dormir algumas noites nos parques de campismo da zona, dormimos essa noite no Camping Picos de Europa, no caminho de regresso a Cangas. O objectivo era visitar Covadonga e os Lagos bem cedo na manhã seguinte, assim fizemos.

Road Trip Marrocos 2019 - viagem, comida e dormida, do ponto de vista de um Maçarico.

  Foi há sensivelmente um mês que partimos para mais uma aventura daquelas que trazem boas memórias, pelas loucas estradas de Marrocos. Como...