quarta-feira, 19 de junho de 2019

Picos da Europa de Mota - 1° dia, do ponto de vista de um Maçarico


 Fazer uma viagem dá sempre direito a uma página especial no livro das nossas vidas. Fazer uma viagem de mota dá direito a um capítulo inteiro. 
 É isto que sinto depois de ter feito a minha primeira grande viagem de mota. 
 Regressado que estou e com mais um risco na minha Bucket list, parece que já conduzo motas há anos, mas só comecei há 4 meses.
 Ainda nem tinha tirado a carta e já o bicho crescia a olhos vistos e não demorou muito até dar início à minha primeira aventura em duas rodas. Mas por onde começar? 
 Pensei em fazer a N2. Seria um bom começo, não fosse eu ter feito esse trajeto em bicicleta ainda nem há um ano. Sendo assim, queria um destino em que pudesse testar a minha resistência e acima de tudo a resistência da pendura. Facilmente chegámos a um consenso, Picos da Europa.
 Depois de estudar bem as alternativas de percurso até Riaño, depois de estudar bem o tipo de dormida e onde dormir, depois de tudo marcado, eis que decidimos baralhar ainda mais as coisas e viajar sem reservas, com uma tenda às costas. 
 Sobre acampar nos Picos podem ver mais detalhes aqui.
 Saímos de Lisboa às 6:30 da manhã, pela A1 até Coimbra, cidade escolhida para a primeira paragem e para um cafezinho reconfortante, é que estava um frio de rachar e nós só com o impermeável nos casacos, a camada térmica ia nas malas e faltou a vontade de  acoplar a mesma. É porque não estava assim tanto frio, dirão vocês e com razão. Uma hora depois já a temperatura estava em valores bem confortáveis.


 Depois de uma visita ao café Estação Doce, seguimos em direcção a Celorico da Beira, deixando o autoestrada para trás. Ali iríamos convergir para Bragança, local escolhido para a passagem transfronteiriça.
 Mal saímos de Coimbra, apanhámos o primeiro e único grande susto da viagem. Ainda no IC2, quando iam todos a uma velocidade a rondar os 100 kms/h, assistimos a um acidente mesmo à nossa frente. Uma carrinha de caixa fechada e um ligeiro, embrulharam-se um no outro, cortando totalmente a estrada. A travagem foi de emergência, não ganhamos para o susto. Após breves minutos, lá conseguimos seguir viagem, depois de constatar que estavam todos bem. Conseguimos passar porque estávamos em duas rodas. Os automobilistas ficaram lá parados com a IC completamente cortada.
 De volta à estrada seguimos pelo IP3, até à saída para o IC6, estrada em que circulámos até o fim, em direcção a Seia.
 Já na N17, passámos por Oliveira do Hospital, Seia, Gouveia e finalmente Celorico da Beira. 
 Aqui, entramos na A25 até à saída para o IP2 em direcção a Bragança. Foi o ponto alto do dia. O IP2 mostra ser um autêntico parque de diversões motociclista, com diversos carrosséis a começar a partir dali. Ali começa, acaba, ou passa a muito divertida N102, a N222, a N226, a N220 e por sua vez a N221 e a espetacular M611 no conselho de Torre de Moncorvo. É uma autêntica Disneylândia em duas rodas.  Só neste troço entre Celorico da Beira e Torre de Moncorvo, há muito para fazer e muito pneu para gastar.

Em Vila Nova de Foz Côa 

A descer a N102 de Foz Côa para o IP2


Pela M611 em Estevais 
 
 Com tanta diversão e vistas fantásticas, nem demos pelo tempo passar até Bragança. Chegámos com o estômago a avisar que o relógio não pára e a hora já ia adiantada. Ainda conseguimos parar no restaurante O Abel, em Gimonde para comer a famosa Posta, que tão bem nos soube. Não havia tempo a perder mas há coisas pelas quais vale a pena perder tempo. Assim, esquecemos por momentos o relógio e lá desfrutámos daquele naco de carne. 
 Seguimos depois pelo Parque Natural de Montesinho, até Rio de Onor, uma lindíssima aldeia transmontana que faz fronteira com Espanha. É difícil descrever a beleza em estado bruto daquele parque natural. O Montesinho é um local espetacular, que não tivemos tempo de vasculhar da forma que merece. Ficará para outra vez. Chegámos a Puebla de Sanabria, em Espanha, já passava das 17 horas. 

Pelo PN de Montesinho em direcção a Espanha.
  

Paragem para a foto em Puebla de Sanabria 

 Ali fizemos uma breve paragem para a fotografia e depois foi sempre a andar por autoestradas gratuitos, em Espanha são poucos os que são pagos, até Mansilla de Las Mulas, de onde seguimos para Riaño pela espetacular N-625. Atenção à passagem dentro das localidades, onde a Guarda Civil se esconde estratégicamente a controlar a velocidade.

A fenomenal N-625 até Riaño 


Quase em Riaño 


Foto da praxe - Riaño 

 Chegámos a Riaño já passava das 20 horas, esquecemo-nos que ali é mais uma hora, mesmo assim ainda paramos para desfrutar da chegada e das fotos da Praxe. Entramos no parque às 20:30 mas não tivemos qualquer problema em fazer o check-in. O responsável do foi muito prestável. Montamos a tenda tendo em conta a vista espetacular de que podíamos desfrutar mas também o vento que soprava. Tudo tratado, foi hora de jantar no restaurante do parque, tomar um banho a seguir (eu sei, a ordem não foi a mais lógica, mas o cansaço já não dava para mais, coisas de Maçarico) e dormir num lugar paradisíaco. Agora imaginem como foi acordar de manhã, abrir a tenda e ver aquele cenário. Fantástico! 

Vista nocturna a partir do Camping 


Acordar assim...

 Foi o nosso primeiro dia, muita aventura e tanto ainda para explorar. 
 Venham daí até Riaño, em duas ou em quatro rodas, é um saltinho. Boa viagem!
  
 

sábado, 15 de junho de 2019

Picos da Europa, acampar no ponto de vista de um Maçarico



 Depois de estudar bem as alternativas de percurso até Riaño, depois de estudar bem o tipo de dormida e onde dormir, depois de tudo marcado, eis que decidimos baralhar ainda mais as coisas, desmarcar tudo e viajar sem reservas, com uma tenda às costas. 
Dormir numa tenda envolveria mais logística, mas depois de lermos e vermos experiências de outros aventureiros percebemos o que era preciso juntar à bagagem. Uma tenda, como não poderia deixar de ser, colchões, sacos-cama e toalhas para o banho, pois estas não são fornecidas nos parques como nos quartos.
 Esta seria uma bagagem extra que não podíamos desconsiderar.
 Tirando a tenda, que tivemos de adquirir, tudo o resto, usámos o que já tínhamos.
Dois colchões de ginástica
 Mostrou ser uma escolha infeliz, muito desconfortáveis ao fim de poucas horas, e são grandes para transportar, o que obriga a aumentar o volume da carga. Existem uns colchões insufláveis na Decathlon, próprios para os sacos cama e que cabem dentro das malas, mas optámos por não fazer esse investimento visto que isto seria apenas uma experiência. Mas fica aqui a dica. 
 Sacos-cama
 Os sacos-cama também não eram os mais adequados. Os nossos eram para temperatura média de 20º e as noites foram bem frias. Apesar de estarmos em Junho, nevou nos Picos. Por isso mesmo, numa viagem de mota por alta montanha, aconselho sacos-cama mais quentes, e que por sinal também cabem dentro das malas visto ficarem bastante comprimidos quando fechados. Coisas de Maçarico!
 Tenda
 Quanto à tenda, foi uma surpresa muito agradável. Optámos pela Quechua Arpenaz 3 fresh and black. Rápida a montar e desmontar, simples de transportar. Apesar de não caber nas malas, não ocupa muito espaço fora delas. Na última noite a acampar choveu a noite toda (a última noite nos Picos foi em Caín, no Hotel Casa Tino, mais uma excelente opção). Mas a tenda portou-se à altura e mais parecíamos uns Shakes das arábias, no conforto dos nossos panos. Sabe bem estar ali abrigado a ouvir chover lá fora.
 Parques de campismo
 Quanto aos parques de campismo nos Picos da Europa, são autênticos hotéis a céu aberto. Casas de banho e balneários com excelentes condições de higiene, restaurantes a funcionar em pleno dentro dos mesmos, e lotes de terreno relvados, prontos para a colocação da tenda, sem problemas. Em todos eles a inclusão na natureza é espetacular. Não posso falar pormenorizadamente daqueles em que não tivemos mas posso avaliar aqueles em que pernoitámos.
 Camping Riaño, Riaño

Vista da nossa tenda no Camping Riaño


Vista nocturna a partir do parque 

 Talvez o Camping com a paisagem mais apaixonante dos Picos da Europa. Adormecer ou acordar com aquela paisagem merece logo 4 estrelas das 5 possíveis. O staff foi muito atencioso e por termos ido em Junho, quando há menos gente, deixaram-nos colocar a tenda onde quiséssemos. Aliás isso aconteceu em todos eles. Quanto aos balneários, tivemos água quente sem qualquer problema e de notar a presença de um secador de mãos que se torna um secador de cabelo ao virar o difusor. Um único senão é os balneários não terem ambiente aquecido. O tecto é rústico, do tipo telheiro, o que permite a entrada do frio. Em dias amenos até torna a experiência divertida, mas com frio, é um pouco incomodativo. 
 No geral, excelente primeira noite que leva a crer que não pode ser melhor. Estávamos enganados.
 Camping Picos de Europa, Avín, Cangas de Onís.

Local abrigado no Camping Picos de Europa, bungalows lá atrás.

 Este Camping é um parque natural dentro do parque natural. Tem piscina, zona recreativa, com várias diversões para crianças, zonas de passeio para fazer uma corrida ou caminhada, muito arborizado e protegido contra intempéries, o que facilita a dormida na tenda mesmo em condições meteorológicas adversas. Quanto às condições, são idênticas ao de Riaño com a particularidade de ter máquinas de lavar e secar roupa que funcionam com moedas. Uma boa experiência. Têm bungalows se eventualmente perder a coragem ou vontade de abrir a tenda. O restaurante funciona muito bem, com muitas opções. O staff também é muito atencioso.
 Camping La Viorna, Potes

Lote muito bonito no Camping La Viorna. Apesar de não se ver, em frente ficavam os balneários.
 
Na minha opinião, sem dúvida, o melhor dos 3. Não que os outros sejam maus. Penso que não há ali campings maus. Mas este destaca-se em muitas coisas. A casa de banho/balneário é melhor do que muitas casas de banho de hotel, muito limpas e confortáveis. Os lotes são muito bonitos. O parque, nesta época do ano já tem muitos campistas, também tem máquina de lavar e secar roupa. Todas as zonas são muito limpas quer na área dos balneários, quer na área de lavar roupa e loiça. O staff é jovem e muito simpático. Quanto ao restaurante é o melhor dos 3. Tivemos de esperar 15 minutos por mesa, tal é a utilização. Grande localização a apenas 800 mts do centro de Potes. Não tem bungalows. Este parque também tem piscina e apesar de estar a chover as piscinas estão prontas a usar, com uma limpeza excecional. Caso venhas acampar, não deixes de experimentar este parque. 
 A título de conclusão, fazer campismo foi uma agradável surpresa. Fazê-lo com estas condições nos parques, fez-me pedir bis. 
Outra vantagem é ter a mota ao nosso lado, o que nos dá maior segurança. Para o efeito, levei uma capa, que não ocupa praticamente espaço nenhum, para tapar a mota à noite, evitando assim a chuva ou a humidade noturna. De manhã, não tinha qualquer dificuldade em pegar.

Mota tapada e bem ao nosso lado. Parece uma garagem.
 Como pudeste constatar no que escrevi, há coisas a melhorar, mas ao fim e ao cabo, sou um Maçarico. 
 Para o ano estamos a preparar uma viagem aos Alpes e queremos alternar dormidas em hotel com dormidas em campismo. 
 Não deixes de experimentar. Só assim poderás ter uma opinião fiável e o investimento não é assim tão grande. Ficou pago com o que se poupou nas dormidas. 
 Boa viagem!

Road Trip Marrocos 2019 - viagem, comida e dormida, do ponto de vista de um Maçarico.

  Foi há sensivelmente um mês que partimos para mais uma aventura daquelas que trazem boas memórias, pelas loucas estradas de Marrocos. Como...